O JUDAS EM SÁBADO DE ALELUIA - CENA IV
(fragmento) de Martins Pena
MARICOTA – Fui bem desgraçada em dar meu coração a um ingrato!
FAUSTINO, enternecido – Maricota!
MARICOTA – Se eu pudesse arrancar do peito esta paixão...
FAUSTINO – Maricota, eis-me a teus pés! (Ajoelha-se, e enquanto fala, Maricota ri-se, sem que ele
veja.) Necessito de toda a tua bondade para ser perdoado!
MARICOTA – Deixe-me.
FAUSTINO – Queres que morra a teus pés? (Batem palmas na escada.)
MARICOTA, assustada – Quem será? (Faustino conserva-se de joelhos.)
CAPITÃO, na escada, dentro – Dá licença?
MARICOTA, assustada – É o capitão Ambrósio! (Para Faustino:) Vá-se embora, vá-se embora! (Vai
para dentro, correndo.)
FAUSTINO levanta-se e vai atrás dela – Então, o que é isso?... Deixou-me!... Foi-se!... E esta!... Que farei?...
(Anda ao redor da sala como procurando aonde esconder-se.) Não sei onde esconder-me...
(Vai espiar à porta, e daí corre para a janela.) Voltou, e está conversando à porta com um sujeito; mas decerto não deixa de entrar. Em boas estou metido, e daqui não...
(Corre para o judas, despe-lhe a casaca e o colete, tira-lhe as botas e o chapéu e arranca-lhe os bigodes.) O que me pilhar tem talento, porque mais tenho eu.
(Veste o colete e casaca sobre a sua própria roupa, calça as botas, põe o chapéu armado e arranja os bigodes. Feito isso, esconde o corpo do judas em uma das gavetas da cômoda, onde também esconde o próprio chapéu, e toma o lugar do judas.) Agora pode vir...
(Batem.) Ei-lo!
(Batem.) Aí vem!
Assista à dramatização desse fragmento e divirta-se!
Quem foi Martins Pena
Martins Pena (Luís Carlos Martins Pena), teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 5 de novembro de 1815, e faleceu em Lisboa, Portugal, em 7 de dezembro de 1848. É o patrono da cadeira n. 29, por escolha do fundador Artur Azevedo.
Era filho de João Martins Pena e Francisca de Paula Julieta Pena. Órfão de pai com um ano de idade e de mãe aos dez, foi destinado pelos tutores à vida comercial. Completou o curso do comércio em 1835. Cedendo à vocação, passou a frequentar a Academia de Belas Artes, onde estudou Arquitetura, Estatuária, Desenho e Música; simultaneamente estudava línguas, História, Literatura e Teatro. Em 1838, entrou para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde exerceu cargos, até chegar ao posto de adido à Legação do Brasil em Londres. Doente de tuberculose, e fugindo ao frio de Londres, veio a falecer em Lisboa, em trânsito para o Brasil.
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