ATIVIDADES
- Objetivos: Pela análise do quadro “Cena de família de Adolfo Augusto Pinto”, observar prováveis mudanças na representação da mulher e, consequentemente, na organização da família; Pela exploração linguística de um editorial da primeira metade do século XIX, discutir em que medida o papel social da mulher se modificou.
- Habilidades: Reconhecer a linguagem como elemento constituidor e constituído da cultura. Identificar as relações entre língua e identidade.
- Descritores: D1 – Localizar informações explícitas em um texto; D4 – Inferir uma informação implícita em um texto; D7 – Identificar a tese de um texto; D8 – Estabelecer relação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la; D9 – Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros; D10 – Identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto.
Quer evitar pesadelos? Então não durma de barriga para cima. Este é o conselho de quem garante ter sido atacado pela Pisadeira. A meliante costuma agir em São Paulo e Minas Gerais. Suas vítimas preferidas são aquelas que comeram demais antes de dormir. Desce do telhado seu esconderijo usual - e pisa com muita força no peito e na barriga do incauto adormecido, provocando os pesadelos. Há controvérsias sobre sua aparência. De acordo com alguns, é uma mulher bem gorda. Já o escritor Cornélio Pires forneceu a seguinte descrição da malfeitora: "Essa é ua muié muito magra, que tem os dedos cumprido e seco cum cada unhão! Tem as perna curta, cabelo desgadeiado, quexo revirado pra riba e nari magro munto arcado; sobranceia cerrado e zoio aceso..." Pelo sim, pelo não, caro amigo... barriga para baixo e bons sonhos.
(Almanaque de Cultura Popular. Ano 10, out. 2008. no 114)
O dia seguinte
Quando amanheceu, Xiju, como nunca deixa de cumprir seu ritual de todos os dias, foi se banhar na cachoeira de sempre. No caminho da estrada, quando estava indo, havia muitas aves cantando, pareciam felizes. Aliás, Xiju também estava com um sorriso muito alegre e ia assobiando. Quando chegou, foi brincalhão e sério ao mesmo tempo. Cumprimentou a água e pediu licença porque iria nadar mais uma vez. Entrou e ficou mais tempo do que de costume. Até que resolveu voltar. Ao chegar, foi logo comendo um mbojape, isto é, na cinza quente.
De repente, Xiju falou, enquanto comia, que iria caçar hoje alguma coisa para comer. Assim, calçou uma bota de borracha. Muitos na aldeia gostam de andar descalços, mas para ir para o meio da mata é bom calçar uma bota ou algum outro tipo de calçado, porque andar no mato descalço é perigoso, principalmente, se pisar em cima de mboi, insetos perigosos ou espinhos, e esse tipo de calçados é importante para os jurua kuery, assim como para os Guarani e tantas outras etnias.
Assim como os Guarani se adaptaram em muitas coisas dos jurua kuery, os jurua kuery se adaptaram a muitas coisas dos Guarani e de outras etnias, como tomar chimarrão, tomar banho, comer mandioca, comer milho, comer tapioca, dormir em redes e posso dizer que nem por isso eles foram chamados de aculturados ou de índios. Assim também são os índios, que se acostumam com certas coisas, mas nem por isso eles serão juruá ou deixarão de ser índios.
Também não esqueceu de levar o petingua e um pedaço de fumo. Na ida, já foi dando uma pitada. É como uma proteção e uma forma de pedir licença para entrar na mata.
Xiju andou bastante, viu vários tipos de animais, mas não caçou, pois o que ele queria mesmo era um ta’ytetu. As horas foram passando, até que de repente encontrou vários deles andando. Esperou que eles passassem, até que passou o último, deu um tiro e matou-o em cheio. Era uma espingarda velha, mas que ainda era de bom uso. (Aqui vocês estão vendo que Xiju caçou com uma espingarda, pois o arco e a flecha não são usados mais por aqui. Continuamos a fazê-los para vender para os turistas, mas existem nações que ainda usam o arco e a flecha para essa utilidade.)
Então Xiju pegou sua caça e voltou para sua casa. Sua mulher foi logo prepará-lo. Depois de limpo, fez uma fogueira, não dentro da casa, mas ao lado e debaixo de uma árvore imensa que se chama kovatingui, cujo nome em português eu não sei.
Enquanto Poty assava a carne, o Pajé pitava em seu petingua, apenas de short, sem camisa, descalço e sentado no chão debaixo de outra árvore, para seu corpo refrescar.
De repente o cacique Tupã chegou e cumprimentou-o. Os dois são irmãos. Ficaram proseando um pouco, ao mesmo tempo em que comiam a carne com farinha de mandioca feita pela própria Poty, uma das coisas que ela mais gosta de fazer e ao lado da casa havia uma plantação de mandioca que todo ano, sempre em agosto, é replantada.
Mais tarde, depois de comer e conversar, o cacique foi para sua casa, que fica ao lado da opy.
Jekupé, Olívio. Conversa de fim de tarde. In: C intra , Leda Rita (org.). Escritos indígenas: uma antologia. São Paulo: Cintra, 2017. E-book
Quando chegou, foi brincalhão e sério ao mesmo tempo. Cumprimentou a água e pediu licença porque iria nadar mais uma vez.
Nos enunciados abaixo, atribua F para FALSO e V para VERDADEIRO, nos enunciados abaixo, a respeito dessa afirmação.
( ) Ao caracterizar Xiju com os adjetivos “brincalhão” e “sério”, entende-se que, ao ser brincalhão, Xiju estava demonstrando sua alegria por estar na presença da cachoeira. E foi sério em sinal de respeito. Logo, as duas posturas (ser brincalhão e sério) não se contradizem.
( ) Há contradição no comportamento da personagem, ao usar os adjetivos “brincalhão” e “sério”, pois não se pode ser brincalhão e sério ao mesmo tempo, ainda que se esteja demonstrando sua alegria por estar na presença da natureza.
( ) “Cumprimentou a água e pediu licença porque iria nadar mais uma vez” demonstra uma atitude de respeito com relação à natureza, o que é característico na cultura indígena.
( ) “Quando” indica uma circunstância de tempo à forma verbal “chegou”.
11. O intercâmbio cultural entre as tradições oral e escrita é marcado no texto, entre outras formas, pela oscilação do foco narrativo. Marque a alternativa correta a respeito dessa afirmação.
( ) No trecho “Quando amanheceu, Xiju, como nunca deixa de cumprir seu ritual de todos os dias, foi se banhar na cachoeira de sempre”, o narrador se coloca fora dos eventos da narrativa, enunciando-se em 1a pessoa.
( ) No trecho “Continuamos a fazê-los para vender para os turistas, mas existem nações que ainda usam o arco e a flecha para essa utilidade”, o narrador se coloca dentro dos eventos da narrativa, enunciando-se na 3a pessoa.
( ) A oscilação (alternância) de foco narrativo pode ser compreendida como um sinal da intersecção entre esses dois mundos porque, ao se colocar fora da narrativa (3ª pessoa), o narrador assume o ponto de vista daquele que observa a cultura do indígena e escreve sobre ela; por outro lado, ao se colocar dentro da narrativa (1ª pessoa), o narrador coloca-se como membro daquela cultura, enraizada na ideia de coletividade própria da tradição oral.
( ) Não há oscilação no foco narrativo, pois o narrador conta os fatos sempre em 3a pessoa, sem fazer parte dos acontecimentos.
Leia o texto abaixo, para responder às duas questões que se seguem.
As mulheres saíram, deixou-me em paz por hoje. Elas já deram o espetáculo. A minha porta atualmente é o teatro. Todas crianças jogam pedras, mas os meus filhos são os bodes expiatórios. Elas alude que eu não sou casada. Mas eu sou mais feliz do que elas. Elas tem marido. Mas, são obrigadas a pedir esmolas. São sustentadas por associações de caridade.
Os meus filhos não são sustentados com o pão de igreja. Eu enfrento qualquer especie de trabalho para mantê-los. E elas, tem que mendigar e ainda apanhar. Parece tambor. A noite enquanto elas pede socorro eu tranquilamente no meu barracão ouço valsas vienenses. Enquanto os esposos quebra as tábuas do barracão eu e meus filhos dormimos socegados. Não invejo as mulheres casadas da favela que levam vida de escravas indianas.
(JESUS, C. M. de. Quarto de despejo. S.P.: Ática, 1999, p. 17. - ADAPTADO)
12. Esse texto do diário de Carolina Maria de Jesus, catadora de papel semi alfabetizada, apresenta traços próprios da condição feminina, expressa na literatura contemporânea. A característica que expressa essa condição é:
( ) demonstração de independência e disposição em assumir encargos.
( ) descaso em relação à forma literária de expressão.
( ) exposição de conflitos da mulher com valores tradicionais.
( ) manifestação de ceticismo em relação à vida conjugal.
13. Ainda sobre o texto do diário de Carolina Maria de Jesus, observamos que a narração é feita em:
( ) primeira pessoa (eu), pois o narrador é também personagem e conta a própria história: “As mulheres saíram, deixou-me em paz por hoje. (...) A minha porta atualmente é theatro.”
( ) primeira pessoa (eu), pois o narrador conta a história de outra pessoa: “Elas já deram o espetáculo. (...) Todas crianças jogam pedras, mas os meus filhos são os bodes expiatórios. Elas alude que eu não sou casada. (...) Elas tem marido.”
( ) O texto foi escrito em terceira pessoa (ele/ela[s]), pois o narrador não é personagem conta a história de outra pessoa: “Os meus filhos não são sustentados com o pão de igreja. Eu enfrento qualquer espécie de trabalho para mantê-los.
( ) O texto foi escrito em terceira pessoa (ele/ela[s]), pois o narrador conta a história de outra pessoa: “Não invejo as mulheres casadas da favela que levam vida de escravas indianas.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário