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Descrição

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A filha
Samir Meserani
    A filha é uma mulher que quando é criança é uma gracinha. Uns dizem que nasceu com a cara da mãe. Outros acham que é do pai. Houve alvuma discussão para escolher seu nome: Ana, Andrea, Apoena, Carla, Carmem, Dalva, Georfiana, Leila, Lúcia, Marisa, Marta, Míriam, Nádia... Tudo, menos um nome composto, como alguém gritou. E ela acabou se chamando...
    Em pequena vestia-se de cor-de-rosa, usava roupinhas bonitas, fitinhas e flores no cabelo. Brincava de boneca e casinha.
    Chegou uma fase, lá pelos doze anos em diante, em que a filha começa a deixar de ser criança, porém não chega a ser uma moça. Não sei como dizer. Os humanos usam uma expressão para a fase em que ela vai entrar, “menina-moça”. É uma mistura de duas palavras, como beija-flor, peixe-boi, guarda-chuva e outras misturas parecidas. Mas dá para entender. Nessa fase a filha tem coisas de criança, como dormir abraçada com um ursinho de pelúcia que ganhou quando tinha três anos. Ao mesmo tempo, como uma moça, sonha estar abraçada com um colega de classe de que gosta mas não que que nungué, perceba, principalmente ele. Qual a vantagem de ele não perceber, também não sei. Creio que é medo dele não gostar dela.
  A filha é filha do pai e da mãe. Mas quando faz alguma coisa que a mãe não fosta, ela diz ao pai:
- Veja o que sua filha fez. Também, mimada como é...
A mãe acha que o pai kima demais a filha. Mimar quer dizer agradar, fazer as vontades e desejos, dar muito carinho. A pessoa mimada acaba fazendo tudo o que quer. Entretanto, a filha sabe que “tudo tem seus limites”, como diz o prórpio pai. Não pode, por exemplo,chegar em casa tarde da noite, como o filho. Mas, às vezes, quando tem uma festa, chega. Não pode ficar quase uma hora no telefone falando com uma amiga que viu de manha na escola sobre coisas fúteis, mas todo dia fica.
         As reclamações mais sobre e a filha que ouvi foram:
  • largar a mala escolar, cadernos e livros, malhas na mesa ou na poltrona da sala, em vez de levar para seu quarto;
  • não apertar regularmente o tubo de pasta de dente, não fechar o vidro de xampu, não guardar na gaveta do banheiro a escova de cabelo;
  • não fechar as gavetas e portas dos armários e do guarda-roupa e não guardar nele saias,calas compridas e malhas;
  • tirar a manteiga, o queijo e outros alimentos da geladeira sem guardar de volta o que não vai mais comer;
  • irritar-se com as coisas, como um lápis sem ponta, uma porta rangendo, a televisão quebrada, uma roupa apertada, como se as coisas tivessem vida e estivessem a fim de contrariá-la;
  • não suportar a menor crítica a seus erros, tentando justificá-los ou se trancando no quarto ofendida, “emburrada”;
  • ficar horas ao telefone e se queixar quando tem que atendê-lo, dizendo “sempre eu”...
  • colocar no mais alto volume de som as músicas que gosta, como rock, funk, rap, dance, pagode, tecno e outros gêneros de música que o pai e a mãe jamais entendem que alguém possa gostar.
Os estranhos seres humanos. São Paulo: FTD, 1999, p. 31-32. In SOARES, Magda. Português: Uma proposta para o letramento - 6º ano. 1a ed. São Paulo: Moderna, 2002, p. 59-60.


Fonte:  SOARES, Magda. Português: Uma proposta para o letramento - 6º ano. 1a ed. São Paulo: Moderna, 2002. p. 67-68

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