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29 de jul. de 2021

CRÔNICA


  
   
É uma NARRAÇÃO curta, produzida originalmente para ser veiculada na imprensa, seja em jornais, revistas, rádio ou TV. Hoje em dia, são vistas em blogs e páginas da internet. 

   Podem falar de acontecimentos familiares, cotidianos ou de fatos de interesse público, mas sempre traz o ponto de vista do cronista. 

   A história pode ser inventada ou dramatizada pelos personagens, ou simplesmente expressar a opinião do autor sobre um assunto.


Tipo de conteúdo

     O texto pode ter um tom triste, engraçado, sério, emocionante, crítico, geralmente com fins inesperados, ou mesmo ser uma mistura desses conteúdos em uma só crônica. 


Linguagem

O texto é leve e curto, com uma linguagem simples e coloquial.  Destacam-se a sátira, a ironia, marcas da oralidade na fala das personagens, a exposição dos sentimentos e a reflexão sobre o dia a dia. 


Temática

Qualquer assunto do dia a dia pode virar tema de crônica! Os  bons cronistas são aqueles que conseguem perceber, no dia a dia de suas vidas, impressões, ideias ou visões da realidade que não foram percebidas por todos. 


Espaço

Por ser  um gênero nascido na cidade, é comum as histórias se passem em ambientes urbanos.

 

Tipos de crônicas 
    Esse gênero explora vários tipos textuais, além do narrativo. Assim, temos crônicas descritivas,  dissertativas e até dramáticas (em que predominam o diálogo entre as personagens).  É comum, ainda, que se mesclem mais de um tipo em uma mesma cônica, é o caso das humorísticas-jornalística, por exemplo. Veja outros tipos de crônicas: 

  • Crônica Jornalística: Aproxima-se do tipo dissertativa. São produzidas para os meios de comunicação, em que o cronista expressa sua opinião a respeito de temas da atualidade. 
  • Crônica Histórica: Aproxima-se do tipo narrativo. É marcada por relatar fatos ou acontecimentos históricos, com personagens, tempo e espaço característicos da época retratada. 
  • Crônica Humorística: Se utiliza da ironia e do humor como ferramenta essencial para criticar alguns aspectos seja da sociedade, política, cultura, economia, ou simplesmente para entreter o leitor.
  • Crônica Reflexiva: Apresentam reflexões pessoais do narrador. Nesse caso, pode não se encaixar na estrutura da narrativa tradicional por não apresentar acontecimentos, apenas reflexões.  

AtividadesLeia um exemplo de crônica humorística: Crônica de supermercado

Vamos entender melhor este conteúdo com ATIVIDADES? 

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ATIVIDADES 

I. Leia esta crônica narrativa, de Moacyr Scilar, publicada originalmente no jornal Folha de São Paulo. 
                        A volta do filho pródigo* 
       "Cerca de 30 mil crianças e adolescentes fogem todo ano no Brasil. Oitenta por cento voltam para casa. Dificuldades com a família e busca de independência são as causas mais frequentes das fugas. A volta é acompanhada de arrependimento."     -  Folhateen, 28.mar.2005 
 

Meus pais não me compreendem, ele pensava sempre. As brigas, em casa, eram frequentes. Os pais reclamavam do som muito alto, das roupas estranhas, das tatuagens. Revoltado, decidiu fugir de casa. Sabia que, para seus velhos, aquilo seria uma dura prova: afinal, ele era filho único. Mas estava na hora de mostrar que não era mais criança. Estava na hora de dar a eles uma lição. Botou algumas coisas na mochila e, uma madrugada, deixou o apartamento. Tomou um ônibus e foi para uma cidade distante, onde tinha amigos. 
     Ali ficou por vários meses. Não foi uma experiência gratificante, longe disso. Os amigos só o ajudaram na primeira semana. Depois disso ficou entregue à própria sorte. Teve de trabalhar como ajudante de cozinha, morava num barraco, foi assaltado várias vezes, até fome passou. Finalmente resolveu voltar. Mandou um e-mail, dizendo que estaria em casa daí a dois dias. E, lembrando que a mãe era uma grande leitora da Bíblia, assinou-se como "Filho Pródigo". 
     Chegou de noite, cansado, e foi direto para o prédio onde morava. Como já não tinha a chave do apartamento, bateu à porta. E aí a surpresa, a terrível surpresa. 
    O homem que estava ali não era seu pai. Na verdade, ele nem sequer o conhecia. Mas o simpático senhor sabia quem era ele: você deve ser o Fábio, disse, e convidou-o a entrar. Explicou que tinha comprado o apartamento em uma imobiliária:
     - Seus pais não moram mais aqui. Eles se separaram. 
     A causa da separação tinha sido exatamente a fuga do Fábio:
     - Depois que você foi embora, eles começaram a brigar, um responsabilizando o outro por sua fuga. Terminaram se separando Seu pai foi para o exterior. De sua mãe, não sei. Parece que também mudou de cidade, mas não sei qual. 
    Fábio não aguentou mais: caiu em prantos. O homem se aproximou dele, abraçou-o. Entre aqui no seu antigo quarto, disse, tenho uma coisa para lhe mostrar. Ainda soluçando, Fábio entrou. E ali estavam, claro, o pai e a mãe, ambos rindo e chorando ao mesmo tempo. Tinha sido tudo uma encenação. Abraçaram-se, Fábio jurando que nunca mais sairia de casa. 
    A verdade, porém, é que não gostou da brincadeira, mesmo que ela tenha lhe ensinado muita coisa. Os pais, ele acha, não podiam ter feito aquilo. Se fizeram, é por uma única razão: não o compreendem. Um dia, ele terá de sair de casa. Mais tarde, naturalmente, quando for homem, quando tiver sua própria casa. Só que aí levará os pais junto. Pais travessos como os que ele tem precisam ser controlados. 

SCLIAR. Moacyr. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0404200505.htm>. 

*Filho pródigo: segundo história bíblica, que volta a morar com a família depois de longa ausência e vida desordenada.

1. Qual é o assunto da crônica? 
2Antes de decidir fugir de casa, o que Fábio pensava sobre os pais? 
3. No fim da crônica, depois de voltar para casa, arrependido, a opinião de Fábio muda em relação aos pais? Justifique sua resposta indicando partes do texto. 
4. O fim da crônica tem algo de inesperado ou surpreendente? Explique sua resposta.

5. Observe o ponto de vista do narrador, a perspectiva de quem conta a história. Como definimos o foco narrativo nesta crônica? Explique.  

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II. Leia esta outra crônica narrativa, de Lúcia Carvalho, publicada na página de internet Releituras.

 
                             
   A máquina 

            Morreu uma tia minha. Ela morava sozinha, não tinha filhos. A família toda foi até lá num final de semana, separar e dividir as coisas dela para esvaziar a casa. Móvel, roupa de cama, louça, quadro, livro, tudo espalhado pelo chão, uma tremenda confusão.
                Foi quando ouvi meus filhos me chamarem.
                — Mãe! Maiê!
                — Faaala.
              Eles apareceram, esbaforidos.
             — Mãe. A gente achou uma coisa incrííível. Se ninguém quiser, essa coisa pode ficar para a gente? Hein?
                — Depende. Que é?
                Eles falavam juntos, animadíssimos.
                — Ééé... uma máquina, mãe.
                — É só uma máquina meio velha.
                — É, mas funciona, está ótima!
                Minha filha interrompeu o irmão mais novo, dando uma explicação melhor.
             — Deixa que eu falo: é assim, é uma máquina, tipo um... teclado de computador, sabe só o teclado? Só o lugar que escreve?
                — Sei.
             — Então. Essa máquina tem assim, tipo... uma impressora, ligada nesse teclado, mas assim, ligada direto. Sem fio. Bem, a gente vai, digita, digita...
                Ela ia se animando, os olhos brilhando.
                — ... e a máquina imprime direto na folha de papel que a gente coloca ali mesmo! É muuuito legal! Direto, na mesma hora, eu juro!
                Ela jurava / fiquei muda. Eu que jurava que não sabia o que falar diante dessa explicação de uma máquina de escrever, dada por uma menina de 12 anos. Ela nem ai comigo. Continuava.
           — ... entendeu como é, ô mãe? A gente, zupt, escreve e imprime, até dá para ver a impressão tipo na hora, e não precisa essa coisa chatérrima de entrar no computador, ligaaar, esperar hóóóras, entrar no world, de escrever olhando na tela e sóóó depois mandar para a impressora, não tem esse monte de máquina tuuudo ligada uma na outra, não tem que ter até estabilizador, não precisa comprar cartucho caro, nada, nada, mãe! É muuuito legal. E nem precisa de colocar na tomada! Funciona sem energia e escreve direto na folha da impressora!
            — Nossa, filha...
           — ... ah, mas só tem duas coisas que são meio chatas: não dá para trocar a fonte e nem aumentar a letra, mas não tem problema não. Vem, que a gente vai te mostrar. Vem...
           Eu parei e olhei, pasma, a máquina velha. Sensacional pensar assim. Eles davam pulinhos de alegria.
              — Mãe. Será que alguém da família vai querer? Hein? Ah, a gente vai ficar torcendo, torcendo para ninguém querer para a gente poder levar lá para casa, isso é o máximo! O máximo!
           Bem, enquanto estou aqui escrevendo nesse meu antiquado "teclado", ouço de longe o plec - plec da tal máquina maravilhosa, que, claro, ninguém da família quis, mas que aqui em casa já deu até briga. Está no meio da nossa sala de estar, em lugar nobre, rodeada de folhas e folhas de textos "impressos na hora" pelos meus filhos. Incrível, eles dizem, plec - plec - plec, muito legal essa máquina mesmo, plec - plec - plec.
            Céus. Achei que tinha acabado, quando a minha filha vem de novo falar comigo, toda decidida e animada, com um texto recém escrito (sem ligar nada na tomada) na mão.
           — Mãe. Me ajuda a fazer uma coisa muito legal que eu morro de vontade de fazer?
           — O que é?
          Ela deu um sorriso, com um ar sonhador.
         — Ah, eu queria tanto colocar isso dentro de uma carta... no correio, com envelope, selo colado... nunca fiz isso, mãe... ahhh, me ajuda?
(Lúcia Carvalho)

1. A crônica gira em torno da descoberta de uma antiga máquina de escrever pelas crianças. Por que esse fato mereceu ser explorado na crônica?

2. Como uma narrativa, esta crônica apresenta seus elementos próprios e têm seus enredos organizados de modos muito específicos. Considerando tais elementos da narrativa, responda: 

a) Ela apresenta uma situação inicial, seguida da apresentação de um conflito? Explique sua resposta. 

b) Como leitor, qual trecho é o maior momento de expectativa sobre como a história poderá acaber, ou seja: que cena representa o conflito

c) Qual é o desfecho da história, isto é: o que acontece no final, que encerra o conflito da história?  

3. O fim da crônica tem algo de inesperado ou surpreendente? Explique sua resposta.   

4. Releia estes trechos: 

a) Perceba que algumas palavras reproduzem o modo como a menina falou enquanto interagia com a mãe. Com que objetivo a cronista usou esse recurso? 

b) O uso da linguagem foi adequado nesse texto, considerando o contexto da situação vivida pelas personagens?  

c) Explique o efeito que o uso das reticências pretende produzir nas falas das personagens. 

5. Considerando todas essas reflexões, pode-se dizer que as duas crônicas são textos literários? por quê?
6Observe o papel do narrador e a perspectiva de quem conta a história. Como definimos o foco narrativo e o tipo de narrador nesta crônica? Explique.
 

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GABARITO

I.
1. A fuga de um garoto da casa dos pais.

2. Fábio pensava que seus pais não o compreendiam. 

3. Espera-se que os alunos percebam que não. No início da crônica, já se mostra que Fábio é um rapaz que se sente incompreendido: "Meus pais não me compreendem, ele pensava sempre". No final da história, a personagem mantém as características apresentadas no início: a teimosia e o sentimento de não aceitação pelos pais. O narrador afirma: "Os pais, ele acha, não podiam ter feito aquilo. Se fizeram, é por uma única razão: não o compreendem". 

4. Espera-se que os alunos percebam que o fato de Fábio decidir que na próxima vez que sair de casa levará os pais junto é um tanto inesperado, além de engraçado, por não ser nada lógico: se a ideia era sair de casa para ficar longe dos pais, com essa nova decisão de levar os pais, ficar longe deles é impossível.
5. O foco narrativo é em terceira pessoa, pois o narrador apenas conta os acontecimentos, sem participar deles.  

II. 
1. Porque é um fato inusitado e que fez parte de um acontecimento familiar. 
 2. a) Sim. Ela prepara o leitor com a apresentação da situação inicial: a tia morreu e eles vão à casa dela para se desfazer das coisas. O conflito surge quando eles encontram a máquina de escrever e querem levá-la para casa. 
b) Quando as crianças querem levar a máquina, mas não sabem se podem. 
c) As crianças levam a máquina para casa e a mãe se surpreende mais uma vez quando a menina se oferece para ajudá-la a enviar a carta pelo correio. 

3. Sim, porque não se espera que algo tão antigo e atualmente antiquado, como usar uma máquina para escrever uma carta e enviá-la pelo correio, pudesse interessar a uma garota de 12 anos, considerando as novas tecnologias que se tem à disposição dos jovens.  
4.  a)Para tornar mais evidente o tom da conversa, o entusiasmo e a emoção das personagens. 
   b) Sim, pois se trata de uma situação informal, um acontecimento entre familiares. Então, a linguagem também é informal.
   c) Para indicar hesitação das crianças enquanto conversam com a mãe sobre a máquina e sobre colocar a carta no correio. 

5. Sim, pois um deles explora a linguagem para aproximar a escrita com a expressividade da oralidade e a outra conta uma história fictícia. 

6. O foco narrativo é em primeira pessoa, pois narrador é personagem, ele participa da história que conta. 

REFERÊNCIAS

  • FIGUEIREDO, Laura de. BALTASAR, Marisa. GOULART, Sidney. Singular & Plural: leitura, produção e estudos de linguagem - 8° ano. 2a. edição. São Paulo: Moderna, 2015. 
  • https://www.todamateria.com.br/cronica/ 
  • https://www.portugues.com.br/literatura/a-cronica-.html 

       

      


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